Eu não sou psicanalista nem psiquiatra por formação, sou apenas por informação. Por isso e por direito sinto-me livre para opinar sobre o tema da área de outros profissionais e ensaístas. A minha reflexão de hoje vai para a probabilidade existencial, ou da relação entre tecnologia da informação (TI) e doenças mentais.
Para melhor contexto, TI se entende por todos os recursos, meios e objetos de conexão com a internet e redes sociais. Assim têm-se do tradicional computador de mesa ao smartphone, iPhone, tablets e iPads. Entendido também que tais aparelhos podem ser usados, sem estar conectados com a internet, como na execução de áudios e vídeos.
O uso massivo da internet no Brasil tem cerca de duas décadas. O mesmo tempo também para o telefone celular e as mídias digitais. Em que pesem ser conquistas recentes, já se conhecem estudos conclusivos das consequências do emprego abusivo e imoderado dessas tecnologias. Há, por exemplo, na USP e Unifesp (Universidades do Estado de São Paulo) grupos de profissionais (psicólogos e psiquiatras) dedicados aos efeitos e consequências da chamada dependência da conexão ou web dependência. O mecanismo desse “vício tecnológico” se assemelha ao vício da dependência química (adicção). Como são os adictos de nicotina, da cocaína, do álcool e muitas outras substancias lícitas e ilícitas.
O mecanismo dessa forte aliança do usuário com sua mídia (smartphone, celular) se dá na área cerebral. Nas mesmas sinapses e neurônios da dependência química. Assim, essas áreas cerebrais vão insidiosamente, cronicamente, sendo adestradas, condicionadas e treinadas a funcionar “melhor” ou “pior” tendo esses recursos e mídias à disposição, o adicto das mídias não consegue mais viver independente dos objetos em estado online.
Um dos efeitos bem característico da adição tecnológica é a fobia da desconexão com a internet, telefone celular e das mídias digitais. Nomofobia é a fobia dessa desconexão, o vício no sistema de recompensa de redes sociais – como os likes de Facebook, retuítes, views em vídeo de YouTube, e corações no Instagram –, também pode ser um fator que contribui na dependência, pois é uma forma de obter pequenos prazeres psicológicos de forma fácil e rápida.
Essa fobia da desconexão é na verdade um corolário de outro grave distúrbio da dependência, o transtorno de ansiedade. É uma angústia ou ansiedade pela necessidade do porte permanente de um instrumento de mídia conectado (online) com a internet e suas populares redes sociais, Facebook, WhatsApp, etc.
Como referido, embora de conhecimento recente, já se sabe dos danos psíquicos e na saúde mental que essa dependência traz aos usuários com esse perfil. E cada vez mais tais questões deverão merecer mais atuação, cuidados de pais, de educadores e profissionais e pesquisadores da matéria. Uma última questão de porte igualmente grave se refere às doenças psiquiátricas mais específicas. Como são os casos das esquizofrenias, do transtorno bipolar e a intitulada personalidade psicopática.
Até então, a gênese da maioria das doenças psiquiátricas é desconhecida. O entendimento da psique humana ainda tem muitas incógnitas. Se a normalidade já é de difícil compreensão, imagine então a patologia das doenças mentais, um labirinto sem começo e sem saída. Fazendo um paralelo entre as doenças mentais e as orgânicas. Para muitas doenças cardiovasculares e degenerativas, como o câncer, existem os chamados fatores de risco. Como exemplo, o tabagismo, o alcoolismo e a obesidade que aumentam a prevalência destas doenças.
De forma análoga quando se fala em psicopatias aventa-se a teoria dos gatilhos. Seria um fator social, ambiental, cultural, comportamental ou químico que propiciasse o surgimento de uma doença psiquiátrica em um indivíduo com essa predisposição constitucional e genética. Em suposição de que minha mente ou psique continua normal, invadem-me esta inquietação e esta interrogação. Não estaria o emprego abusivo das tecnologias da informação funcionando como gatilhos para muitas enfermidades mentais?
Com a palavra os especialistas e estudiosos do assunto. Se tanto, deixo outra tese igualmente relevante. Muitos são os casos de bullying virtual (ciberbullying), de suicídios (vide jogo da baleia), de homicídios e atentados. Vários são os relatos, registros e documentos de que os autores de tais crimes e atentados se inspiravam em episódios semelhantes e registrados na internet.
Assim se pode concluir que no mínimo o uso irracional, nocivo e delituoso da tecnologia da informação propicia a que surjam essas crises psicóticas, como primeira manifestação, nesses doentes mentais. E eles cometam crimes os mais bárbaros aqui pelo Brasil e pelo mundo. |